A Prefeitura de Aracaju iniciou em agosto deste ano a implantação dos novos abrigos de ônibus do corredor da Avenida Hermes Fontes, uma das principais vias da capital sergipana. Desde então, a população passou a observar as novas instalações e têm questionado se elas correspondem à proposta da gestão de um ponto de ônibus moderno, seguro e acessível. A conclusão da obra depende da instalação completa dos 24 abrigos na avenida, e que tem previsão para finalizar no mês de outubro, segundo a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT). 

A instalação segue lenta e com prazo de entrega em atraso, já que a previsão de conclusão desta obra era para o final do ano passado. No entanto, pelo que já foi feito, é possível observar que as ilhas possuem um espaço pequeno, com risco de não comportar um grande número de usuários, sobretudo nos horários de maior fluxo de passageiros. 

De acordo com o conselheiro federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe (CAU/SE), Ricardo Mascarello, cidades contemporâneas, onde a gestão busca o conceito de modernidade, devem pensar com prioridade na inclusão social. Para ele, o espaço que esses novos abrigos possuem poderá prejudicar pessoas que utilizam cadeira de rodas em determinados momentos, por exemplo. 

“O projeto colocou o abrigo no meio da avenida - ilhas, como chamamos. Está sendo implantado entre o meio fio e isso acaba dando pouco espaço. Se tiver uma pessoa com deficiência física, cadeirante, pode haver conturbação. Afinal, pode ser que em algum momento acumule muitas pessoas nessas ilhas estreitas”, avalia o conselheiro. 

Mascarello chama atenção para uma tendência histórica que acontece em Aracaju a cada nova gestão: sempre lançam projetos para novos abrigos de ônibus da cidade. Segundo ele, que acompanha o desenvolvimento urbano de Aracaju há cerca de 15 anos, o que tem ficado em evidência é que a cada nova gestão municipal um novo projeto para mudar o modelo dos abrigos de ônibus é lançado. No entanto, na visão do arquiteto, nunca se trata de projetos que visem a proteção do usuário e a durabilidade dos abrigos por um tempo prolongado. 

“Existe uma busca das gestões de trazer um novo desenho de abrigo, de mudar a forma arquitetônica e os materiais empregados há, praticamente, duas décadas. Mas nunca se chega num abrigo ideal. Em 2015, o plano de governo colocou os abrigos na cor verde, que eram muito frágeis e não tinham proteção e durabilidade compatíveis. Precisamos, definitivamente, estudar os abrigos para que cumpram sua função de segurança, e que sejam aprofundados os materiais, para que tenham durabilidade”, destaca Mascarello.

Outro ponto importante que está sendo analisado pelo CAU/SE, segundo Mascarello, é sobre a segurança do usuário. O conselheiro avalia que, até o momento, não foram instalados parapeitos nas ilhas, para evitar atropelamentos. Por estarem localizados numa região central da via, há maior risco de serem alvos de acidentes de trânsito, atingidos por veículos que, de alguma maneira, possam invadir as ilhas.

“Não vimos ainda parapeitos protetores nos abrigos. É importante que tenha segurança para os usuários. Como o espaço é pequeno, algumas pessoas poderão acabar ficando de fora da ilha, e isso é perigoso”, disse. 

De acordo com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), os novos abrigos são feitos de alumínio, um material considerado de alta resistência. Além disso, eles possuem iluminação de LED, entradas USB para uso dos passageiros, bancos e informações das linhas de ônibus que passam por eles. 

No entanto, segundo Mascarello, o material utilizado não é o mais apropriado para regiões litorâneas. Neste caso, o aço inox seria o ideal, por sua resistência à ação da maresia, conforme explica o profissional ao F5News. Apesar de custar mais caro, o arquiteto acredita que seria correto investir mais em algo que tem maior durabilidade. Afinal, a obra do corredor da Hermes Fontes faz parte do Projeto de Mobilidade Urbana de Aracaju, que conta com um investimento de mais de R$ 20 milhões, destinado a toda a reconfiguração dessa e das avenidas Beira Mar, e Centro/Jardins,  

“Dou um exemplo da cidade de Medelim, na Colômbia, que é uma referência em termos de transporte. Eles estão colocando lixeiras de aço inox. Porque essa lixeira é mais cara, mas ela vai ficar lá por anos. Se colocar de plástico ou alumínio, ou vai quebrar ou enferrujar”, cita. 

Apesar de acompanhar todas as obras realizadas em Aracaju, Ricardo Mascarello afirma que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe não opinou sobre esse projeto do corredor da Hermes Fontes. Segundo ele, o CAU faz parte do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano de Aracaju (Condurb), no entanto, o projeto não passou pela entidade para análise antes de ser aprovado. 

Procurada por F5News e questionada sobre quais órgãos participaram da análise do Projeto de Mobilidade Urbana de Aracaju, a Prefeitura Municipal não se manifestou.

F5News entrou em contato com o vereador Breno Garibalde (DEM), atual presidente da Comissão de Obras da Câmara Municipal de Aracaju, além de arquiteto, que tem acompanhado a realização dos novos corredores de ônibus da cidade. Para o parlamentar, é positivo o fato de as estruturas serem de alumínio, pois também se trata de um material com boa durabilidade. 

“Existe também a ideia de serem feitas intervenções artísticas nos pontos, o que eu também acho muito bom, já que a cidade ficaria mais agradável visualmente e mais convidativa. Sobre atrasos, fui informado que, na verdade, houve demora na entrega do material, por conta da pandemia", disse o vereador ao portal.

Breno afirma ainda que é preciso aguardar a finalização da obra, para que possa ser feita uma avaliação mais precisa dos novos abrigos.

De acordo com a SMTT, a previsão é que a população possa utilizar os novos pontos de ônibus da Hermes Fontes somente a partir do mês de novembro. Em outubro, a obra desse corredor deverá ser concluída, no entanto, o órgão ainda realizará uma campanha educativa para conscientizar condutores e pedestres. Já a previsão para conclusão de toda a obra que abrange os corredores das demais avenidas (Beira Mar, Adélia Franco, José Carlos Silva e Augusto Franco), é para janeiro de 2022.