Queda de assaltos a ônibus gera mais tranquilidade, mas não plenamente
F5 News visitou terminais da região metropolitana para trazer visão dos passageiros Cotidiano | Por Saullo Hipolito 24/12/2019 15h00Cientes dos números apresentados pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros da Grande Aracaju (Setransp) e órgãos da segurança pública sergipana, os quais apontam uma redução acentuada no número de assaltos em ônibus dentro de Aracaju e na região metropolitana, passageiros do serviço público ouvidos pelo F5 News e reforçaram a percepção de menos criminalidade dentro dos veículos.
Mesmo com essa redução, usuários do sistema de transporte coletivo continuam assustados e adotam estratégias para não ser uma potencial vítima desse crime, que acontece e deixa traumas. É o caso de Fernanda Vitória, estudante da 3ª série do Ensino Médio. “Eu fui assaltada no meio do ano, dentro de um ônibus que estava parado no Terminal Maracaju [Nossa Senhora do Socorro]. Dois criminosos entraram no ônibus já anunciando o assalto, e levaram pertences de algumas pessoas, isso acaba gerando receio de voltar a utilizar o transporte”, afirmou Fernanda, que estava no terminal do centro.
Junto de sua mãe no momento da entrevista, a estudante afirmou que mesmo com medo, a realidade financeira a obrigou a voltar a usar o serviço de transporte público, mas que desde então, não viu nada do tipo. Ambas asseguraram à equipe de reportagem que não existe confiança total, mas que têm percebido um maior policiamento nos terminais e isso inibe a ação de marginais.A opinião da adolescente se alinha a de outros usuários entrevistados, como a vendedora Fabiele Santos, que gasta em média três horas diárias dentro dos ônibus da capital sergipana, se locomovendo de casa para o trabalho e no sentido contrário. “Percebi que há uma queda considerável de assaltos em ônibus, mas nessa época de festejos tendem a aumentar um pouco as incidências. Eu vejo muito policiamento pelas áreas que frequento, como zona Norte e Centro da cidade”, disse.
A insegurança - ainda que se reduzindo - não surge apenas entre os mais jovens, a equipe de reportagem também abordou os mais velhos para saber como se sentem e o medo também ficou presente em suas falas. “Tenho 50 anos, já vi muita coisa dentro de ônibus em Aracaju e isso me dá um medo muito grande. De lá para cá, percebi grande redução da criminalidade e eu tenho a agradecer aos policiais, que sempre vejo nos terminais, eles estão de parabéns”, disse a aposentada Hildemar Souza.Esse policiamento ostensivo, segundo o comandante do CPMC, coronel Moura Neto, é fruto de um trabalho conjunto entre os órgãos, com incremento de câmeras de segurança nos ônibus, a diminuição da quantidade de dinheiro circulando nos veículos a partir da utilização do cartão vale transporte, além da redução do armamento, com a apreensão de mais de 510 armas de fogo deste ano. “Diminuímos o poder letal e o dinheiro, e ampliamos o horizonte de verificação desse marginal”, ressaltou.
Policiamento presente
Para realizar um trabalho eficaz nas mais de 570 linhas de ônibus existentes na Grande Aracaju, para uma demanda de aproximadamente 220 mil usuários por dia, o coronel Moura Neto reafirmou que, no trabalho conjunto com o Setransp, é possível identificar regiões onde há uma curva mais acentuada no nível de criminalidade, com isso, o número de policiais é reforçado na região, inibindo os criminosos. “Desde a metade do ano passado tem bastante policial presente em terminais, não só aqui no Distrito Industrial de Aracaju (DIA), como no terminal da Atalaia, onde vou com frequência, principalmente em horários de pico, quanto nos últimos horários da noite. Geralmente quando percebo a presença, posso ter atitudes mais seguras, como por um fone de ouvido que gosto bastante”, afirmou o passageiro Gilberto dos Santos.Mesmo com os policiais, há quem prefira não pegar o celular. “Procuro ser o mais discreta possível, para que eu não me torne alvo de um possível criminoso dentro dos ônibus. A gente tem sempre algumas estratégias, mas é interessante não revelar para que terceiros tomem conhecimento”, afirmou Fabiele Santos.
Criminalidade
Segundo a coordenadora das Delegacias da Capital, delegada Nalile Bispo, a quantidade de jovens menores de idade envolvidos nesse tipo de crime é alta, mas durante as abordagens policiais, o que se percebe é que não há uma exatidão quanto a faixas etárias, entre os indivíduos detidos há também maiores de idade.
Para muitos dos entrevistados, a falta de emprego e oportunidades são os principais fatores que levam muitos desses jovens a entrar no mundo da criminalidade. “Estamos vendo muitas pessoas sendo vítimas do que vem acontecendo com nossa sociedade, seja a criança que cresce sem pais, a vivência em regiões periféricas da cidade e que, muitas vezes, são esquecidas pelos governantes, o descaso com a saúde e educação pública, a construção da índole das crianças, são fatores que proporcionam que mais pessoas ingressem no mundo criminoso”, avaliou o professor aposentado Getúlio Gomes.Ainda na visão dele, a estrutura político-financeira também é um agravante, pois é possível ver desvios de verbas e outros crimes que provocam, diretamente, esse abismo entre as classes sociais no país. “Ver isso nas televisões é revoltante, atrelado a diversos outros fatores, pode ser uma faísca para que as pessoas entrem nesse mundo que, por vezes, não tem volta”, afirmou Getúlio.