O caso do frentista, Eduardo Rocha, de 24 anos, que foi hospitalizado após ingerir, por engano, uma substância que se suspeita ser etanol, repercutiu entre os sergipanos e serve de alerta para os riscos à saúde.

O fato ocorreu no posto de combustível onde Eduardo trabalhava, localizado no bairro Novo Paraíso, em Aracaju, no dia 16 de outubro. Ele tomou a água contaminada que estava em sua garrafa pessoal, acreditando que era água comum, o que desencadeou uma série de problemas de saúde. A Polícia Civil está investigando o caso para esclarecer as circunstâncias e identificar eventuais responsáveis.

Para detalhar as implicações do consumo acidental de etanol e as medidas apropriadas a serem tomadas em situações semelhantes, o F5News conversou com a médica gastroenterologista, Idalena Esteves.

"O etanol ou álcool hidratado é o produto utilizado no abastecimento dos carros. A ingestão de álcool combustível acidentalmente pode ocasionar alterações relacionadas ao sistema nervoso central, dependendo da quantidade ingerida, da graduação do etanol e do tempo de exposição”, disse a médica.

Segundo ela, a demora no socorro também é determinante, pois os danos estão relacionados ao tempo em que o combustível permanece no corpo humano. "Além disso, se houver fatores precipitantes, como pacientes com alguma patologia pregressa, essa alteração no sistema nervoso central pode desencadear gatilhos, culminando em doenças psiquiátricas, como ansiedade, depressão, entre outras", explicou.

Esteves ainda enfatiza as medidas a serem tomadas por uma pessoa nessa situação. "O socorro deve ser imediato. Manter o paciente respirando e procurar atendimento médico o mais rápido possível é crucial. Em hipótese alguma, deve-se provocar vômito. É essencial cuidar para manter as vias aéreas do paciente livres e certificar-se de que ele está respirando", orientou.

No que diz respeito à rapidez no atendimento, a Idalena afirma que "o acolhimento dos profissionais do HUSE foi decisivo" no caso de Eduardo. A médica acrescentou que, após a ingestão, os sintomas "podem variar de visão embaçada, diminuição da coordenação motora, incoordenação motora, alterações de humor, palpitações e inclusive, risco de óbito".

Ela também aponta que, além do trato gastrointestinal, a ingestão de líquido inflamável pode afetar outros sistemas do corpo. "Pode afetar o sistema cardiorespiratório, causando palpitações e arritmias cardíacas. No sistema nervoso central, pode levar ao coma hepático, encefalopatia de Wernicke, depressão, ansiedade e incoordenação motora. No tubo digestivo, pode ocasionar esofagite, gastrite aguda e, no fígado, pode ocorrer hepatite aguda induzida por drogas. Tudo depende da graduação do álcool, da dose ingerida e do tempo entre a ingestão acidental e o pronto atendimento", detalhou Idalena.

Esteves ainda explicou que essas alterações podem ser temporárias ou permanentes, por isso a necessidade de uma equipe multidisciplinar e de longo prazo para avaliar as sequelas e o tratamento mais indicado.

Ao ser questionada sobre os sintomas específicos apresentados pelo frentista, como reações alérgicas, dores de estômago e tremores involuntários, a gastro afirma que "será necessário um acompanhamento de longo prazo por uma equipe multiprofissional, com neurologista clínico, psiquiatra, psicólogo, fisioterapeuta, gastroenterologista, entre outros".

Em relação a precauções e medidas preventivas, a médica aconselha evitar "ingerir alimentos ou líquidos oferecidos por pessoas que você não conhece bem. Ao se afastar de seu prato ou copo, jogue-os fora ao retornar e desconfie de todos. Não existe uma fórmula mágica para evitar situações assim. Conversem com as crianças e jovens, orientem, e, quem sabe, no futuro, estejamos menos vulneráveis", concluiu a médica.