“Violada e às vezes até meio culpada. Quando acontece com frequência, infelizmente acabamos achando que o problema está em nós”

Diariamente muitas mulheres são vítimas de importunação sexual nos transportes públicos e nos terminais rodoviários. Segundo dados de um levantamento realizado pelo Instituto Patrícia Galvão, 97% das mulheres entrevistadas afirmaram já ter sido vítimas de assédio em meios de transporte. 

Essa situação acrescenta mais um desafio ao já estressante cotidiano da mulher que utiliza o transporte público como meio de locomoção.

Em Sergipe, somente até abril de 2023, já foram registrados 128 casos de importunação sexual nos transportes públicos. Esse número representa um terço dos registros feitos no mesmo período em 2022.

“Acontece desde a minha adolescência e, infelizmente, sempre foi com bastante frequência, principalmente quando se está só”, afirmou ao F5 News uma mulher que pediu para não ser identificada. O portal manterá nomes fictícios para preservar as entrevistadas.

Ao conversar com algumas vítimas de importunação sexual nos transportes públicos, foi possível perceber que um ponto convergente em seus relatos é que os homens se aproveitavam dos ônibus lotados para cometer o crime. 

“É constrangedor, porque quando levantamos a voz para relatar o que está acontecendo, somos taxadas de loucas. Não sei por que, mas sempre que o ônibus estava lotado, observava ao redor, só para ver se não tinha nenhum homem se aproveitando para importunar as mulheres”, disse ao F5 News outra mulher, usuária do transporte público municipal há 9 anos.

A importunação sexual, além de causar um constrangimento momentâneo, pode gerar problemas psicológicos graves às vítimas - e duradouros. O sentimento de desproteção que é enfrentado diariamente prejudicial a saúde emocional.

“Violada e às vezes até meio culpada. Quando acontece com frequência, infelizmente acabamos achando que o problema está em nós”, relatou uma das entrevistadas ao F5 News. 

Por ser uma situação de violência gratuita que abala muitas mulheres em seu íntimo, nem sempre elas conseguem reagir ao sofrerem  importunação sexual. É o caso de uma adolescente de 19 anos, que já foi vítima da ação ilícita diversas vezes, dentro dos ônibus e nos terminais rodoviários. 

“Quando eu via essas situações de assédio na televisão, ou na internet, pensava que se fosse comigo eu iria gritar e reagir. Mas quando aconteceu eu não fiz nada, fiquei sem reação”, expressou ao portal. 

Durante a conversa, ela ainda relatou que só conseguiu se posicionar contra o homem que a importunava da última vez em que foi vítima do crime. 

Com o objetivo de diminuir o número de casos de importunação sexual no Brasil, foi instituída, em 2018, a Lei 13.718 capaz de oferecer proteção a vítimas em diversos locais, inclusive em transportes públicos.

Segundo o Art 2º da legislação, praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro, é crime com pena de 1 a 5 anos, isso se o ato não for considerado mais grave.