Com a ocupação de 100% dos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), os diretores do Hospital São Lucas, em Aracaju, concederam nesta sexta-feira (5) uma entrevista coletiva à imprensa, para falar sobre o atual cenário epidemiológico da covid-19 e alertar a população sobre a gravidade da doença. De acordo com o mais recente boletim da Secretaria de Estado da Saúde (SES), a taxa de ocupação dos leitos de UTI opera em 65,% na rede pública, e 89,7% na rede privada. Nas enfermarias, a ocupação é de 62,4% no SUS e 97,8% na rede particular.

Além do São Lucas, outros dois hospitais particulares de Aracaju (Unimed e Primavera) estão com 100% dos leitos covid ocupados. No estado, 153.482 pessoas já testaram positivo para a doença e 2.993 morreram, também conforme o levantamento mais recente da SES. 

 

Segundo o diretor do hospital, o infectologista Gerônimo Araújo, mais da metade dos pacientes do São Lucas é de pessoas com a Covid-19. Ele explica que várias medidas foram adotadas nas últimas semanas para ampliar o número de leitos e continuar com o atendimento à população.

"Estamos vivendo uma realidade de superlotação. Ontem abrimos 12 leitos a mais, e atualmente temos quase 110 pacientes em tratamento contra a Covid, mais de 50% do nosso total de atendimentos", disse. O hospital tem ao todo 194 leitos.

O infectologista faz um comparativo com o mês de dezembro, quando 20 pacientes estavam internados na unidade, enquanto hoje são 87 em leitos exclusivos, mais 18 que já cumpriram o isolamento, mas seguem em tratamento. Em relação ao número de atendimentos diários, em dezembro de 2020, eram 40 por dia, hoje são cerca de 170 pessoas com síndromes gripais atendidas, e uma média de 12 a 15 internamentos por dia.

"A gente nunca teve essa demanda Covid. Estamos com 39 leitos de UTI, dois pediátricos, e os demais enfermaria, além dos leitos de retaguarda (estabilização do paciente). A sensação da equipe é que estão enxugando gelo ou tirando água de um barco afundado. A população precisa valorizar as medidas restritivas e as proteções (uso de máscara, álcool gel, distanciamento )”, reforça o diretor do São Lucas.

Mudança no perfil 

Os médicos observam uma mudança no perfil dos pacientes, nessa segunda onda da doença. Diferente do que ocorreu no começo da pandemia, quando os principais afetados eram pessoas mais idosas, agora, os pacientes tem sido cada vez mais jovens.

"O perfil é significamente diferente, a nossa impressão é que são pacientes mais jovens. A doença está progredindo de uma forma mais rápida, os pacientes acabam tendo acometimento pulmonar de mais de 50%, com uma variação de poucos dias. O paciente interna e acaba precisando de uma terapia intensiva no primeiro ou segundo dia de internação, coisa que a gente não via no período passado", explica o diretor técnico do hospital, o cardiologista, Leonardo Baumworcel.

Ele também diz que o tempo de internação tem sido maior, como os pacientes ficam graves,  os médicos precisam de pelo menos 10 ou 14 dias até conseguir reverter o quadro.

De acordo com o infectologista Gerônimo Araújo, essa mudança pode estar relacionada às novas variantes, mais ainda não é possível afirmar.

"Pode, sim, ter relação com essas cepas novas, mas a gente não tem como afirmar, porque não há nenhum trabalho, nenhuma investigação epidemiológica no país que afirme isso, é só uma suspeição", explica.