“A grande dor de cabeça do PT é o PMDB | F5 News - Sergipe Atualizado

“A grande dor de cabeça do PT é o PMDB
Política 20/07/2015 05h27


Por Joedson Telles 

O presidente da Central Única dos Trabalhadores em Sergipe (CUT/SE), Rubens Marques, o professor Dudu, comenta, nesta entrevista, a última greve feita pelos educadores em Sergipe e a forma como o governador Jackson Barreto (PMDB) tratou os professores. Militante histórico do Partido dos Trabalhadores, Dudu também defende que o PT tenha candidato próprio a prefeito de Aracaju e polemiza, ao apontar o aliado PMDB do governador Jackson Barreto como o maior problema do PT. “Hoje, a grande dor de cabeça do PT não é o DEM e nem o PSDB. Estes são inimigos históricos. Mas o PMDB. Este partido oportunista. Já vi uma coisa horrorosa, mas como este PMDB? É fisiológico, oportunista. Sugador. Se aproveitou do PT em todos os momentos. Aqui em Sergipe, muitas candidaturas do PT foram castradas para abrir espaço para o PMDB”, diz.

Como a CUT avalia a última greve dos professores?

Acredito que foi a grande greve do serviço púbico em Sergipe. Houve elementos diferenciados das outras. Primeiro que nas greves anteriores, quando o Judiciário julgava ilegal e aplicava uma multa, a categoria voltava (ao trabalho).  O Sintese se orienta pelas assembleias. Quem define são as assembleias. Desta vez, houve a sugestão da direção do Sintese para não voltar, claro. Mas só aconteceu o que aconteceu porque a categoria acatou a proposta da mesa. Da direção para não voltar. A multa, o Sintese explicou que tinha um dinheiro guardado para fazer um centro de formação, com o qual poderia bancar o fundo de greve, que não é barata. Você mobiliza todos os dias – tem ônibus, alimentação, uma série de coisas. Mas a categoria aprovou. Então, pela primeira vez, deixamos claro que não é verdade que decisão judicial não se questiona, se cumpre. Isso é senso comum. Se fosse verdade, não haveria mais de uma instância. É tanto que os desembargadores divergiram. Você pode até dizer que perdemos de 7 x 3. Mas tivemos três desembargadores que fizeram uma fundamentação bem feita, questionando a de cisão dos colegas. E todo mundo sabe o quanto o Poder Judiciário é corporativo. Um não quer desagradar o outro. Você passa meia hora vossa excelência pra lá e pra cá. Uma série de elogios, e na hora de divergir, eles não divergem. Mas desta vez vimos divergências claras.

Divergências?

Acho que o Poder Judiciário teve tudo para fazer justiça, não fez porque não quis. Até porque o argumento usado pelo desembargador José dos Anjos, na minha opinião, foi um argumento bizantino.  Veja: a primeira coisa é confundir serviço essencial com fundamental. Educação é fundamental. Essencial é a medicina, o médico, que se não for trabalhar o paciente morre. É o bombeiro. Na educação, se você não for trabalhar hoje, paga depois. Até porque é lei: todo aluno tem direito a 200 dias letivo. Então, o parecer foi cheio de falhas. A segunda foi pior ainda. Cada vez que ele argumentava piorava a situação. Colocou que o Sintese não deixou 30% do efetivo trabalhando. Ou seja, a proposta do desembargador era o Sintese discriminar os alunos. Como saber os 30% dos alunos que têm que ter aulas? Quem são os professores? O Tribunal orientando que o Sintese disseminasse. O que estou verbalizando não é falta de respeito com o Judiciário. Quero deixar claro. É a voz de um dirigente sindical que tem o direito de questionar. É uma leitura da conjuntura. Os professores, pela primeira vez, eu vi saírem de uma greve com vontade de continuar. Voltaram por conta do corte do salário e a possibilidade de demissão. O desembargador disse que desrespeitamos o Poder Executivo, ao ocuparmos o palácio. Mas o governador Jackson Barreto passou o tempo todo a fazer chacota. Você não tem ideia do grau de irritação da categoria porque ele fez chacota. Uma delas: “como é que o senhor está vendo a greve? Com estes óculos”. E não foi só essa: “quando acabar a brincadeira, avise”.  Jackson subestimou a força dos professores. No começo, a greve estava em baixo. A gente reconhece. Foi uma decisão de coragem, a greve geral. Tem setor da imprensa que atacou violentamente o movimento sindical por causa da greve. Isso e a chacota unificaram a categoria. Triplicou a participação. Então, essa foi a grande greve.                      

O senhor salientou a irritação dos professores com o governador Jackson Barreto. Mas isso não acontece com todos os gestores ou foi maior com Jackson?

Foi porque Jackson foi jocoso. Enfrentamos Valadares, que foi duro com a categoria. Marcou. Enfrentamos João, Albano, Déda. Déda chegou a declarar: “ou o Sintese quebra as minhas pernas ou quebro as pernas do Sintese”. Declarou guerra. Mas no terreno da política. Na ação. Outros governador tinham propostas. Mesmo que fossem enganar. Mas Jackson não tem proposta nenhuma, e ainda foi jocoso. Deu um tiro no pé. A categoria saiu unificada.

E o servidor geral?

Estamos tentando unificar os servidores e fazer uma greve geral, mas nem todos os sindicatos são filiados à CUT. Há outras centrais e quanto a CUT chama os sindicatos elas boicotam. Mas vou continuar chamando para sairmos com greve unificada. Eu sou daqueles que defendem 1 milhão de sindicatos, mas não precisamos de tantas centrais. No Brasil, temos 13. Tudo atrás de imposto sindical, o que é uma lástima.  

E qual a expectativa do percentual que o Governo do Estado anunciará?

Não abrimos mão dos 22%, que o governo ficou devendo lá atrás, e dos 13% agora. Tem que pagar. O índice não foi inventado pelo Sintese. É o MEC que faz o cálculo.   

O senhor é a favor de o Governo do Estado contrair empréstimo, para não atrasar salário?

Para colocar a folha em dias, o governo tem que exonerar os cargos em comissão. Você veja o escândalo, em plena guerra, em plena crise, durante a assembleia, na porta do palácio chega uma nota pela rede social: “mais um cargo em comissão sendo nomeado naquele minuto: o enteado de João Eloy”. Veja. Automaticamente, o governo exonera e tem a coragem de dizer que não sabia. O governo não precisa de empréstimos. Precisa exonerar. Em janeiro, o governador exonerou. Era o momento de enxugar. A CUT já vinha denunciando desde Déda. Você mesmo fez entrevista comigo. Tem muita gente sem fazer nada para nós que trabalhamos pagar.

O senhor afirmou que o governador Jackson Barreto tem interesse em fragilizar o Sintese?

Sim. Jackson quer fragilizar o Sintese porque é um sindicato de referência, e quando cobra e avança os demais sindicatos vão também. É bom para Sergipe ter um sindicato de referência que peita o governo. Não para desafiar, mas para cobrar o que é seu por direito.              

Mas o meio sindical, em sua maioria, abraçou a candidatura de Jackson Barreto. Aliás, fez o mesmo com Déda...

Eu também acredito que a maioria fez opção por Jackson porque acreditava na promessa dele. Ele assumiu na campanha, o Sintese tem o áudio, “paguei e vou pagar”. Os outros candidatos não disseram. Até porque não tinham dados para se comprometer. Até a eleição, Jackson vinha negociando, mas mudou depois da reeleição. Os servidores não votaram na cega. Tinha um compromisso firmado no horário eleitoral. Para Sergipe. Não foi só para a categoria.

Ao anunciar que deixa a vida pública após o mandato, Jackson ajuda ou atrapalha sua própria gestão?

Não acredito. O político só deixa de fazer política quando morre. Eu duvido que alguém faça como Figueiredo: “quero que esqueçam de mim”. Morreu de tédio, abandonado. Esqueceram mesmo. Morreu num hospital de quinta. Acho que Jackson, pela vaidade, jamais quer ser esquecido. Todo político quer sair deixando alguém. Naturalmente, ele vai ter candidato. E não há garantia que ele mesmo não seja candidato. Jackson diz que não é candidato. Ele também disse que pagaria o piso. Pagou? Quando a pessoa diz que não é candidato é uma forma até melhor para fazer as mudanças, e sair por cima.  Tem que contrariar para o bem. Demitir cabo eleitoral que não trabalha, pagar bem o servidor. Quem não é candidato faz isso. Quem não é mais candidato não mantém um rosário de amigos e políticos ao seu lado.

O que podemos esperar do PT, partido ao qual o senhor é filiado, nas eleições 2016?

É difícil responder. O PT está num processo de reconstrução. O presidente Rogério Carvalho foi sábio, quando assumiu o partido e disse que estava em reconstrução. O PT vai ter que amargar derrota, perder postos. Um novo momento. O PT está apático. Mas, mesmo assim, com Rogério Carvalho tem mais vida comparado ao tempo de Déda, que estava acima da militância. Temos mais reuniões, encontros. Estamos ouvindo as bases. Tempos ruins virão... Eu esperava mesmo uma depuração no PT. Estes quadros viciados que caíssem fora logo. Muita gente só está no PT porque Dilma é presidente e tem cargo. Se o PT perder o Governo Federal, deixa o PT.                     

O PT terá mesmo candidato na disputa pela Prefeitura de Aracaju, agora em 2016?

Se o PT não tiver nome é uma vergonha. O PT nasceu para governar. Para romper com a tradição. Imagine o PT não ter candidato? Vai virar coadjuvante. Ficou nas eleições de Edvaldo Nogueira e Valadares Filho e olhe, agora, a dificuldade de emplacar um nome? O PT cometeu um erro histórico com Lula e outro com Déda. O PT beneficiou, foi mais gentil com aliados que com o próprio partido. Hoje a grande dor de cabeça do PT não é o DEM e nem o PSDB. Estes são inimigos históricos. Mas o PMDB. Este partido oportunista. Já vi uma coisa horrorosa, mas como este PMDB? É fisiológico, oportunista. Sugador. Se aproveitou do PT em todos os momentos. Aqui em Sergipe muitas candidaturas do PT foram castradas para abrir espaço para o PMDB. Lula fez isso nacionalmente.      

O PT tem o mesmo olhar crítico de outros governos para o governo do PMDB?

O PT é aliado de Jackson. Quem se coloca contrário, não é o partido é uma corrente. Quem faz um mandato cobrando, questionando é a deputada Ana Lúcia. Você teve notícia de alguma moção de solidariedade do PT para com os trabalhadores por conta da suspensão da greve? Em outros tempos tinha. Greve do trabalhador, o PT estava lá. Mas hoje é aquilo que assumiram na eleição. Aliado. Nacionalmente é melhor ainda. Tem que ser aliado como Ana Lúcia: antes do governo, os trabalhadores. É por isso que defendo que o PT volte às origens. Não se confunda com o governo. Se não dá para salvar o governo, salve o partido. O PT teria que ter dito a Dilma para tirar do rico, e não do trabalhador.

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