Aiai, a sustentabilidade e os seus dilemas… | Consciência Limpa | F5 News - Sergipe Atualizado

Aiai, a sustentabilidade e os seus dilemas…
Por que eu ainda acredito no poder da ação individual?
Blogs e Colunas | Consciência Limpa 14/03/2020 11h00

Eu acordei um dia com uma sensação forte e convicta de que deveria começar a mudar meus hábitos em prol do planeta. Isso aconteceu no final do ano de 2019, após assistir à retrospectiva de todos os desastres ambientais registrados. Eles mexeram profundamente comigo e me fizeram questionar o que de fato eu tenho feito para ajudar na redução dos impactos ambientais que tanto têm sobrecarregado o planeta. Então, decidi mudar. Comecei a dar os primeiros passos e vi que poderia fazer melhor: compartilhar meu novo estilo de vida com as pessoas para que elas pudessem sentir vontade de mudar também. Mas, para poder mudar meus hábitos cotidianos, substituindo-os por práticas mais sustentáveis e ainda falar sobre elas,  eu precisei adentrar na questão a fundo e pesquisar mais e mais. Foi assim que o dilema começou...

Primeiro que eu me deparei com uma infinidade de pessoas falando sobre o assunto, discutindo práticas e dando dicas, porém essas mesmas pessoas não demonstravam profundidade na temática. A jornalista Marina Colerato, fundadora do portal Modefica, chama isso de ambientalismo performático, quando na “materialidade cotidiana questões socioambientais estão fora do jogo econômico, de um lado, ou são vaidades pessoais, do outro”. 

Logo em seguida vieram as ofertas dos produtos ditos sustentáveis e as suas incoerências. Afinal, muitos deles carregam o prefixo “eco”, porém, são vendidos em embalagens de plástico.  Ou seja, mais um gatilho do capitalismo que se aproveita de um nicho para continuar gerando cada vez mais consumo. 

E as incoerências não acabaram por aí. 

Começaram a surgir questionamentos e críticas das pessoas ao meu redor, que me geraram diversos confrontos de pensamentos, me levando automaticamente para auto questionamentos como do tipo: se o fato de eu deixar de comer carne, ou ir ao supermercado e à feira com minha ecobag, ter meu próprio kit de reutilizáveis, entre outras coisas, faz alguma diferença?! 

Realmente, indo à fundo na questão, fica claro que o buraco é muito mais embaixo do que se possa imaginar quando estamos falando sobre meio ambiente e sustentabilidade. Quando você passa a entender que sem uma visão sistêmica a mudança que tanto desejamos não vai acontecer, e que, para piorar não sabemos de fato o que pode ser feito para que ela aconteça, a situação se torna um tanto desesperadora e caótica. Juntando isso ao fato de que mudança de hábitos não é nada fácil, principalmente quando se trata da adoção de práticas sustentáveis, a tendência é que tudo caia por terra e as pessoas abram mão da tentativa. 

Felizmente, não foi o que aconteceu comigo. 

Na verdade, tudo me levou à conclusão de que as pessoas realmente ativas da questão são aquelas que levam adiante suas ações individuais de mudança de hábitos, mesmo diante de tantas incoerências, dilemas e dificuldades. Apesar de me ver questionando e em conflito, todo o contexto me reforçou o pensamento de que é a nossa mudança INDIVIDUAL de hábitos dentro e fora de casa que nos levará para um enfrentamento real da crise climática em todo o mundo. 

Imagine se cada um dos seres humanos passasse a repensar o próprio consumo, ou a questionar se ele gera de maneira direta ou indireta impactos ao meio ambiente? Afinal, as mudanças climáticas são discutidas e apontadas desde a década de 70, e o cerco tem se fechado cada vez mais (todos sabemos disso). Cada um fazendo sua parte, levando adiante e gerando reflexão, o resultado só tende a ser positivo. Pensando assim, não me restaram dúvidas sobre o poder da ação individual, e mais, ainda brotou em mim a esperança de um mundo diferente no futuro. 

A escritora Cristal Muniz, que inclusive se desafiou em 2014 a ter uma experiência de vida #lixozero, e contou tudo no livro Uma Vida sem Lixo, acredita que quando passamos a carregar dentro da nossa bolsa (todos os dias e para todos os lugares) nosso próprio kit sustentável, ou quando produzimos nosso próprio material de limpeza e cosméticos, por exemplo, estamos “negando e recusando muitas armadilhas de consumo”. Para Muniz, diante do caos climático em que vivemos, com notícias e previsões assustadoras a todo instante, a ação individual é muito importante para materializarmos a luta ambiental. 

“Toda coisa que faço aqui em casa com as minhas mãos seja cozinhar, seja criar um cosmético natural, seja comprar coisas na loja a granel é um esforço ativo contra essa lógica do consumo. E é nisso que reside a maior importância da ação individual: criar consciência e transformá-la em prática no dia a dia. É buscar uma vida que seja mais livre do sistema de consumo que vivemos”, afirmou a escritora no texto publicado em seu blog pessoal.

Diante desse fortalecimento de pensamentos, me vi confiante em toda a mudança de hábitos que estou propondo para a minha vida, e com a certeza de que eles farão diferença SIM (por mais que continuem surgindo àqueles que lançam dúvidas sobre essas ações, ou que até mesmo ridicularizam). Inspirada em pessoas como Colerato e Muniz, todo e qualquer pensamento de desistência se distancia. 

Bem como, todas as vezes em que vejo pessoas se preocupando junto comigo, e dispostas a mudarem da mesma forma que eu, reforça em mim a crença no poder da ação individual, pois é ela que nos gera resultados coletivos positivos. Pode até parecer clichê, mas, “juntos somos mais”, portanto, se você está -ou pretende- fazendo parte desse movimento, siga com confiança. É nosso papel refletir e gerar cada vez mais reflexão nos outros. O caos climático é apontado pelos cientistas desde a década de 70. Em 2019, cerca de 11 mil cientistas assinaram um artigo declarando que o planeta enfrenta emergência climática, e que tem piorado a cada ano. A ONU anunciou em 2018 que tínhamos apenas 12 anos para frear o aquecimento global. Estamos em 2020, nos restando então 10 anos para reverter a situação. E sim, ela é reversível ainda. Os mesmos cientistas que alertam para o caos, também apontam que para garantir um futuro sustentável, precisamos mudar nossos modos de vida.

Eu gosto de uma frase que o Michael Jackson disse durante os ensaios para a última turnê de sua carreira, que nunca aconteceu devido ao falecimento em 2009. Ele pretendia, nos shows, falar sobre meio ambiente e a necessidade de agirmos individualmente, após a apresentação da música Earth Song. Gravada em 1995, a música chama atenção do mundo para a degradação da terra de modo geral, e foi usada em diversas campanhas de alerta para preservar o meio ambiente pelo mundo inteiro. Os ensaios foram documentados e MJ disse o seguinte ao final desta música:

¨As pessoas sempre dizem “Eles vão cuidar disso. O governo vai resolver, não se preocupe. Eles vão…”. “Eles”, quem? A solução começa com a gente. Com a gente! Ou o problema nunca será resolvido¨. 

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Lais Oliveira de Melo, jornalista diplomada, pós-graduanda de MBA em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, atualmente repórter do Jornal da Cidade e blogueira em Consciência Limpa. Premiada em 2018 no Prêmio Setransp com a terceira melhor reportagem de veículo impresso. Trabalhou por cinco anos no marketing digital de uma empresa de turismo e participou de um programa de estágio no F5 News.

E-mail: demelo.lais@gmail.com

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