A vida após a tragédia: confira algumas experiências de dor e superação | F5 News - Sergipe Atualizado

A vida após a tragédia: confira algumas experiências de dor e superação
Relatos apontam que morosidade nos processos contribui para aumentar a angústia
Cotidiano | Por F5 News 23/07/2022 10h00


Uma tragédia pode marcar para sempre a vida de uma pessoa, seja algum familiar que perdeu um parente, ou uma vítima sobrevivente. 

Tocar a rotina normalmente após tais impactos não é uma tarefa fácil, muitos relatam que a vida nunca volta a ser o que era antes. 

A morosidade muitas vezes observada no sistema judiciário brasileiro ainda pode contribuir para exacerbar um sentimento de desamparo, que dificulta ainda mais a superação dos traumas causados pelas tragédias. 

O Caso Evelyn

Imagine perder um filho ou uma filha em um acidente brutal, esta é a realidade de algumas famílias que têm que lidar com as marcas da tragédia. É uma luta diária para superar e ressignificar a dor. 

Miriam Leite perdeu sua filha, a baterista, Evelyn em dezembro de 2013, na batida em sua moto causada por dois rapazes que disputavam um racha. O episódio ganhou bastante repercussão em Aracaju, não apenas pela brutalidade, mas também pelo tempo em que transcorreu o processo, mais de oito anos. 

Relembrando o caso, após a batida entre um dos carros que disputava o racha e a motocicleta que Evelyn pilotava, a jovem morreu, enquanto o motorista do veículo fugiu sem prestar socorro a ela e só se apresentou na delegacia dois dias depois. 

Como Miriam, a mãe, leva a vida após o que aconteceu com Evelyn? “Eu digo assim a gente a vida continua, a gente não pode parar, ficar preso. É como diz uma música, para não viciar na tristeza. Então eu decidi pela felicidade, pela alegria, independente do que aconteceu”, afirmou Miriam Leite ao F5 News

Ela ainda contou que um dos desafios é ter que lidar com as pessoas à sua volta. Seu marido, por exemplo, tem dificuldade para ressignificar o que aconteceu. 

“É difícil lidar muitas vezes não só com essa questão mas porque a não aceitação. Meu esposo até hoje não consegue trabalhar o sentimento no coração dele, sabe? Assim fica difícil, porque nós somos um. Então às vezes vem uma tristeza, mas por conta dele”, disse a mãe de Evelyn em entrevista ao portal. 

Miriam relatou ao F5 News que buscou conforto na religião cristã, ou seja, acredita num reencontro pós vida com a filha durante a ressurreição, que é uma profecia bíblica. Além disso, ela procura fazer atividades coletivas e ter contato com pessoas que têm a experiência da tragédia em comum, como uma forma de se ajudar e poder ajudar os outros. 

“Às vezes vem aquela lembrança tão forte quando eu me lembro de momentos especiais que nós tivemos juntas e eu sempre reforço: "nunca deixe de dizer que ama as pessoas. Porque é isso que ecoa, que fica no nosso no nosso consciente, no nosso subconsciente reservado e guardado, para a gente sempre pensar no melhor para nossas vidas”, declarou Miriam Leite sobre a saudade que sente de Evelyn. 

Em abril deste ano, o condutor do veículo que matou Evelyn, Augusto Carvalho, foi condenado em júri popular, uma pena leve na visão da família, conforme mostrado por F5 News.

O Caso Sabrina 

Sabrina Silva Lima Gonçalves era uma cabeleireira de 36 anos, que conheceu seu destino trágico em uma academia. Ela foi vítima de feminicídio no ano de 2020, morta a tiros por seu ex-companheiro, Samuel Santos, de 38 anos, em Nossa Senhora do Socorro. Sabrina deixou duas filhas de um casamento anterior, uma com 13 e outra 18 na época. 

O feminicídio só teve desfecho em maio de 2022. Foram cerca de dois anos de espera da família para o resultado do processo, o que gerou muito sofrimento. O réu, Samuel Santos, foi condenado há 21 anos de prisão, conforme registrou F5 News.

“Já vem sendo muito difícil há dois anos, depois que aconteceu isso com a minha mãe. Eu espero que a justiça seja feita, porque isso me consome demais. Espero que ele fique muito tempo, porque ele não acabou só com a vida da minha mãe, acabou com a minha e a da minha irmã”, expôs a filha de Sabrina, Gabriele Silva Lima, atualmente com 21 anos, durante entrevista à TV Atalaia, antes do julgamento final de Samuel Santos. 

Gabriele contou na entrevista para a TV Atalaia, onde se emocionou muito falando sobre sua vida após a morte da mãe, que ela foi a pessoa que ficou responsável por cuidar da casa e de sua irmã após essa perda trágica. “Uma ajuda a outra”, disse a jovem. 

Morosidade

Quando as tragédias são frutos de crimes, quem fica ainda precisa lidar com os processos judiciais que podem seguir por longos anos. Alguns processos com mais duração, como no Caso Evelyn, ou com menos, como no Caso Sabrina, mas que, de qualquer forma, geram angústia nas famílias que espera por um desfecho na Justiça. 

Mas a demora atende à necessidade legal do pelo exercício de defesa, afirma ao F5 News a advogada da área criminal Larissa Nathália de Souza Santos. 

“Devido a diversos recursos possíveis no curso do processo e a passagem para as instâncias superiores acaba ocorrendo a morosidade, a demora do julgamento do processo. Para as famílias em busca de justiça, essa espera acaba sendo um tempo de muito sofrimento, mas ao mesmo tempo, o acusado tem o direito a uma defesa de qualidade. Então, é importante respeitar o curso do processo”, expõe a advogada.

Ela ainda ressalta que a lei penal segue o princípio da presunção da inocência dos acusados e, por isso, independentemente da gravidade ou brutalidade do caso, eles têm o direito de defesa. 

Já a advogada de família e criminalista Valdilene Oliveira Martins, uma das fundadoras do Instituto da Advocacia Negra Brasileira, disse ao F5 News que a morosidade processual é um problema antigo, mas que a Emenda Constitucional n°45 do artigo 5 da Constituição Federal, estabelece o direito à duração razoável do processo e assegura que deve haver o máximo de agilidade possível na condução de processos judiciais e administrativos para que haja efetivação da justiça. 

“Toda lei deve servir para contribuir com a garantia da ordem e da paz social, mas é fato que a morosidade da Justiça tende a viabilizar a ineficácia das leis e a propagar o sentimento de impotência na sociedade, em decorrência da impunidade que decorre de todo esse contexto”, afirma a criminalista. 




 

Edição de texto: Monica Pinto
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