No Brasil, em 2019, foram realizados 68.530 procedimentos de cirurgia bariátrica, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Entre 2011 e 2018, o número desse tipo de procedimento cresceu 84,7%. 

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A gerente administrativa Fátima Tavares, de 46 anos, é uma das pacientes que encorpa essa estatística. Ela sofria com refluxo gastroesofágico, que é quando há o retorno involuntário e repetitivo do conteúdo do estômago para o esôfago. Isso tirava sua qualidade de vida ao ponto de precisar dormir quase sentada. A solução seria a realização de uma cirurgia, contudo, Fátima não estava apta pois possuía obesidade grau II. 

Na busca por retomar a qualidade de vida, ela tentou diversas formas de perder peso - consultas com endocrinologista, dietas variadas, dentre outras opções -, mas não conseguiu emagrecer o necessário. 

Foi a partir daí que os médicos recomendaram a cirurgia bariátrica, que foi realizada no ano de 2011, quando ela tinha 34 anos. 

Ela afirmou ao F5 News, que na época não foi informada pelo seu médico sobre os riscos e consequências da cirurgia bariátrica. 

“Eu não sabia. Eu não pesquisei. Eu não me atentei. Às vezes eu até falo que não fiz perguntas que deveriam ter sido feitas. Ele acabou não me explicando tanto, e fiquei me devendo isso. Quando ele conversou comigo, me falou só dos benefícios”, contou em depoimento. ao portal.

Riscos

A médica endocrinologista Marinalva Lima disse ao F5 News que a cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com obesidade grau 2 (IMC maior que 35) quando associadas a comorbidades e pacientes com obesidade grau 3 (IMC maior que 40), que não obtiveram sucesso com o tratamento clínico. 

“Dependendo do tipo da cirurgia realizada, o paciente poderá ter dificuldade na absorção de nutrientes e vitaminas, dentre elas, a vitamina B12 e o ferro”, afirma Marinalva Lima.

A endocrinologista alerta para a importância do acompanhamento médico regular após a cirurgia, visando monitorar e repor vitaminas e outros nutrientes que possam estar em deficiência no organismo. 

Não apenas vitaminas e nutrientes podem ter a absorção prejudicada, os remédios também enfrentam a mesma dificuldade. “Pode acontecer com algumas medicações, não todas. A maioria dos remédios continuam sendo absorvidos. No entanto, alguns medicamentos e algumas vitaminas podem ter sua absorção prejudicada e ser necessário, nesses casos, a substituição da medicação oral pela via venosa ou muscular”, declarou a especialista. 

Este foi um dos erros cometidos por Fátima, que em suas palavras, afirmou ter ficado desleixada em relação ao acompanhamento médico e à limentação. Ela desenvolveu uma anemia  ferropriva após a cirurgia, que é caracterizada pela falta de ferro no organismo, o que pode ser fruto de uma alimentação inadequada, ou má absorção do nutriente. 

"Eu confesso que a culpa foi minha. Relaxei totalmente. Parei de tomar as vitaminas, não me policiei, não fui mais ao médico, não fiz regularmente a endoscopia. Fui bem desleixada. Os malefícios que acabaram aparecendo depois, foi porque eu não cumpri os protocolos de maneira correta”, indica.  

Nem todo mundo 

Por ter consciência das consequências, não só da cirurgia bariátrica, como do uso de medicamentos para emagrecer, algumas pessoas acabam optando pelo processo natural. 

Elisabeth dos Santos Araújo, de 33 anos, profissional de educação física, pesava 92 kg, totalmente insatisfeita, principalmente por não conseguir roupas do seu tamanho em lojas comuns. Ela recorreu ao endocrinologista, disposta a tomar remédio para emagrecer. Dentre dietas loucas e restritivas, ela buscou a reeducação alimentar e juntou-se a um grupo de apoio com pessoas que queriam perder peso de forma saudável e natural. 

Outro exemplo que ganhou repercussão recentemente, foi Jojo Toddynho. A artista tinha recomendação médica para fazer a bariátrica, mas ao perceber que conseguia perder peso de forma natural e prazerosa, abriu mão da cirurgia. 

"De fato eu estava querendo fazer a bariátrica também porque eu não estava querendo treinar, fazer dieta, nada. E estava achando que a bariátrica iria fazer um milagre, né? E não é assim. Então tomei gosto por treinar, por fazer uma alimentação mais adequada e decidi  não fazer mais a bariátrica", disse em uma postagem.

A nutróloga Vitória Matos, que também atua na área de emagrecimento, alerta que o processo natural é lento. “Todo processo de mudança física no corpo leva um tempo. É preciso se dedicar, ter paciência e curtir cada passo da mudança", disse ao portal. 

A endocrinologista Marinalva defende a cirurgia, uma vez que o processo da perda de peso sem remédios ou sem ela pode acabar sendo mais doloroso para o paciente. 

“Muitas vezes antes da cirurgia bariátrica, o paciente faz uso de vários medicamentos para controle de comorbidades que ele possui devido à obesidade, como medicamentos para diabetes, dislipidemia e esteatose hepática. Após a cirurgia, a maioria desses remédios são suspensos, sendo necessária a suplementação de vitaminas e não de remédios como fazia anteriormente a cirurgia”, enfatizou ao portal. 

Estagiária sob supervisão da jornalista Mônica Pinto.