No último dia 16, F5 News divulgou o avanço de Sergipe no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), cujos números vieram a público naquela data e foram festejados pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc).

O ideb de Aracaju mostra, porém, a contribuição significativa da capital para essa performance, com crescimento de 20,45% na avaliação dos anos finais do Ensino Fundamental – passou de 3,9 em 2019 para 4,4 em 2021. Houve avanço também nos anos iniciais – de 4,8 em 2019 para 5 em 2021, crescimento no percentual de 4,17%.

Aracaju foi, inclusive, uma das quatro capitais brasileiras a registrar crescimento nos anos iniciais do Ensino Fundamental, junto com Recife, Porto Alegre e Macapá.

Em 2021, estava à frente da Secretaria Municipal de Saúde (Semed) a professora universitária Cecília Tavares Leite, graduada em Serviço Social e mestre em Educação pela UFS e doutora em Serviço Social pela PUC/SP.

Em entrevista ao F5 News, ela narrou os desafios da educação municipal em plena pandemia e, inclusive, o porquê de ter deixado a condução da Semed em maio deste ano. Confira. 

F5 News – O Ideb de Aracaju avançou em meio à crise causada pela covid-19, como isso foi possível?

Maria Cecília Tavares Leite - Com a pandemia e a suspensão das atividades educacionais presenciais, com as escolas sem aulas e sem alunos e professores, a sensação inicial e profunda foi de o chão abriu, formou-se uma grande cratera e não tínhamos o que fazer, a não ser esperar tudo passar para juntar os pedaços e recomeçar. Mas esse sentimento inicial foi logo superado diante de uma imensa rede formada por professores e professoras, alunos e alunas e seus familiares e a certeza crescente que é nas crises que as grandes transformações são construídas.

 Assim, iniciamos um intenso processo de construção de estratégias e ações para que todo esse coletivo não ficasse disperso, que a aprendizagem não perdesse completamente seu sentido e que o sentimento de pertencimento a uma rede educacional presente na vida de cada um, de cada uma, fosse o eco maior naquele momento difícil e dolorido para todos.

F5 News – Na prática, de que formas isso se processou?

Cecília - Foram várias as estratégias construídas, como a assinatura de convênio com a Câmara de Aracaju para repasse diário de conteúdos educacionais, o que foi fundamental, pois não precisa de conectividade para o uso dessa ferramenta, que era o grande problema enfrentado pelas famílias; a criação do canal “A Escola Vai Até Você”, alojado no site da Prefeitura, com todos os conteúdos educacionais passados na TV Câmara, conteúdos produzidos pelos professores da rede municipal de ensino e política de comunicação com as famílias, além de conter orientações sobre como trabalhar as atividades remotas não presenciais.

A entrega dos kits de alimentação escolar revestiu-se de natureza pedagógica, pois era também o momento das famílias receberem as atividades educacionais para o estudo em casa. Isso permitiu  a manutenção dos vínculos de pertencimento a uma rede, além da segurança alimentar.

Outras diversas estratégias foram construídas, todas elas tendo como foco a mitigação dos efeitos da pandemia na evasão escolar e na reprovação. O sentimento era de que nenhuma criança ou adolescente ficaria sem a nossa assistência e cuidado e assim o fizemos.

F5 News – As aulas presenciais na capital apenas retornaram em setembro de 2021. Como foi o desafio de dar conta da educação à distância?

Cecília - O ensino remoto foi um grande desafio, pois historicamente consolidamos nossas práticas educativas hegemonicamente no formato totalmente presencial. Não tínhamos expertise nenhuma sobre o processo de alfabetização no modo remoto. Saber que, nesse país tão desigual, crianças e adolescentes estavam em suas casas, sem aulas, interrompendo o seu processo de desenvolvimento, era o que nos impulsionava para a ação. Assim a Semed fez a sua marca com muita garra, construindo parcerias, fazendo busca ativa, estreitando os laços com as famílias, intensificando o Programa Horas de Estudo e a formação de professores. Materializar o ensino e dar conta da aprendizagem eram os grandes desafios, que nos mobilizavam diariamente.

F5 News – A senhora encontrou dificuldades por parte também dos professores da rede municipal?

Cecília - Todas as dificuldades foram dadas pelo contexto da pandemia, pelo medo do vírus e da morte. O distanciamento tocou profundamente nossa subjetividade e nosso fazer nesse tempo. Mas todos foram fundamentais nesse processo. O avanço no Ideb de Aracaju é fruto da acão de cada educador, de cada educadora, que reconstruiu e ressignificou o seu fazer profissional brilhantemente.

F5 News – Pode-se presumir que já havia indícios antecipando o resultado positivo no Ideb. Por que a senhora deixou a Semed?

Cecília - Após cinco anos e cinco meses conduzindo a Secretaria Municipal da Educação de Aracaju, enfrentando talvez o mais difícil e complexo período da educação brasileira, decidi voltar para a docência na Universidade Federal de Sergipe, para também cuidar um pouco da minha saúde. Tive a covid por três vezes e, na última, identifiquei algumas complicações no meu organismo.

Ser gestor de uma pasta tão complexa exige a total disponibilidade diária, o que fiz durante o tempo que estive como secretária da Educação. Fico muito feliz com os resultados do Ideb. Sei que existem grandes desafios ainda para a recomposição da aprendizagem, mas a Prefeitura de Aracaju continuará conduzindo a educação com muita prioridade e cuidado. Agora é avançar mais e sempre. Aracaju figurar entre as quatro capitais que melhoraram o Ideb nos anos iniciais nos enche de orgulho.