Maria Menezes: da Dona Encrenca à Semana da Sergipanidade | F5 News - Sergipe Atualizado

Entrevista
Maria Menezes: da Dona Encrenca à Semana da Sergipanidade
Atriz nascida em Aracaju conta aspectos de sua bem-sucedida carreira ao F5 News
Cotidiano | Por Monica Pinto 05/11/2023 19h00 - Atualizado em 06/11/2023 08h58


A atriz aracajuana Maria Menezes granjeou sólida popularidade na Bahia, para onde se mudou aos 18 anos decidida a ingressar no curso de Processamento de Dados da UFBA. Foi aprovada no vestibular, mas constatou posteriormente que seu caminho estava nos palcos e nas telas.

A fama nacional veio a partir do quadro do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), exibido pelo programa global Fantástico de 2007 a 2018. Nele, Maria Menezes cativou o Brasil encarnando a Dona Encrenca, personagem que conferiu leveza e humor às análises do órgão sobre vários produtos.

A atriz voltou recentemente ao estado natal para protagonizar a campanha da Federação do Comércio de Sergipe alusiva à Semana da Sergipanidade, realizada pela entidade de 24 a 29 de outubro passado.

Brevemente afastada do teatro para se dedicar integralmente ao filho, Maria Menezes festeja seus 30 anos de carreira com a peça “Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui)”, um monólogo de viés autobiográfico atualmente em turnê pelo interior da Bahia e que reproduz o estilo jocoso e alegre característico do trabalho da atriz.

Entre suas muitas atividades, Maria Menezes concedeu ao F5 News a entrevista a seguir.

F5 News - O que te levou à mudança para a Bahia?

Maria Menezes – Eu vim para Salvador fazer vestibular para Processamento de Dados na UFBA. Eu era muito CDF, muito boa aluna, e tinha curiosidade de ir para um lugar maior, de estar só, sem a família.  Gosto muito de viagem, de conhecer pessoas novas, ambientes diferentes e havia também ambição profissional, de fazer alguma coisa diferenciada. Acabei passando no vestibular, só que logo de cara não me adaptei ao curso. Fiquei fazendo vários vestibulares, passava, mas não gostava de nada. Até que por acaso - essa surpresa que o destino faz pra gente, porque você não planeja, parece que é armado pelo universo para favorecer aquilo - eu fui fazer um curso de teatro. Era uma coisa meio para relaxar. Eu estava tão perdida, meu pai me bancando ainda e eu precisando ser independente, sem conseguir uma profissão que me agradasse.

F5 News – No curso de Teatro você encontrou esse caminho?

MM – Sim, logo no início eu me apaixonei, vi que aquilo tinha a ver comigo, que me interessava. Foi um presente do destino porque eu peguei uma professora chamada Hebe Alves, uma pessoa que preparava a todos de uma forma muito generosa, muito amorosa, com uma coisa do autoconhecimento e eu também precisava disso. Para mim, calhou muito bem. A abordagem dela era muito do se aprofundar em você mesmo, de se perceber, do saber seus potenciais, seus limites e tudo isso fez muito sentido. Para o momento em que eu estava, era uma oportunidade de me descobrir e, ao mesmo tempo, me entender como alguém que fazia as pessoas rirem.

F5 News – Como e por que você enveredou pela comédia?

MM - Eu já sabia disso um pouco porque eu sempre fui a engraçadinha da turma, mas percebi num campo artístico que aquilo também funcionava, que o meu humor se traduzia para o palco. Eu sempre gostei quando as pessoas riam de mim, me agradava. Muitas pessoas não gostam quando riem delas, se ofendem, mas no meu caso era uma aceitação, me potencializei como alguém engraçado mesmo. Desde que comecei a fazer teatro, sempre preferi os papéis cômicos. É bom quando tem alternância para outros climas e outros tons, mas a minha especialidade realmente é comédia. Foi assim que um amigo me indicou esse curso: ele me viu fazendo alguma coisa engraçada, tudo muito por acaso, sem planejamento, sem buscar. Mas, quando você está no momento, as coisas aparecem.

F5 News – Como foi esse seu primeiro contato com o teatro, através do curso?

MM – Foi muito agradável, de muitas descobertas e alegrias, sempre me aprofundando, me interessando pelas artes cênicas. Era um curso que trazia várias linguagens, então a gente estudava várias abordagens do teatro e eu me apaixonei por isso. Logo depois, fiz vestibular mais uma vez e acabei me formando bacharel em Artes Cênicas.

F5 News – O sucesso veio rápido ou foi difícil?

MM – Depois que eu achei o teatro, comecei a trabalhar sem parar, fui muito bem recebida em Salvador como atriz. Tive destaque de atriz revelação, tive indicação pra prêmios logo. Fiz uma personagem, Albertina, de uma crônica de Fernando Sabino, que era muito engraçada e ficou bem famosa. Teve "O Casamento do Pequeno Burguês" (1994), eu fiz a noiva. Teve outra peça dirigida por Hebe Alves, "Isso Assim Assado no Inferno" (1997), indicada a vários prêmios, ganhei melhor atriz em festivais.

Eu também cheguei num momento de muita efervescência do teatro baiano. Tinha acontecido A Bofetada e eu participei do segundo fenômeno de público, que foi o do grupo Los Catedrásticos, do qual logo fui convidada a participar. Eles tinham essa peça chamada "Recital da Novíssima Poesia Baiana", onde eles declamavam as letras da axé music que estava começando - de abrir a rodinha da Sara Jane ao Durval Lélis. E também a do faraó, um hino do início da popularidade desse tipo de música.

Foi um fenômeno de público. Quando eu conheci Los Catedrásticos, a peça já era um sucesso, entrei substituindo uma atriz e fiquei no grupo. Vivíamos lotando todos os teatros da Bahia. Chegamos a ir para Rio de Janeiro, São Paulo. Fizemos várias versões desse tipo de abordagem ou recital, declamando as letras.

F5 News – E como você chegou à TV?

MM – Através do teatro fui fazer a minha primeira participação em televisão, que foi em uma série que se chamava Brasil 500 Anos, exatamente dez anos depois de ter começado o meu primeiro curso, em 1990.  Em 2000, estava tendo essa série nos intervalos do Fantástico e quem a dirigia era João Falcão, um diretor pernambucano hoje muito famoso. Ele criou pequenos episódios sobre fatos da história e eu fiz um muito lindo sobre a bandeira do Brasil, contando como ela foi criada. Isso numa fábrica de bandeiras, costurando a do Brasil entre as costureiras.

No segundo episódio, já fui convidada por outra pessoa do Fantástico que gostou de mim – a Eugênia Moreira, que era diretora de séries e quadros do programa. Ela me chamou para um episódio muito engraçado, falando da história do rádio e da ligação do brasileiro com as coisas populares do rádio. E aí eu fiquei conhecida dessa diretora. Em 2006, ela se lembrou de mim, me convidou pra fazer uma série chamada “E eu com isso?”. Era época de eleição e o Júlio Mosquéra, um jornalista, ia fazer uma série sobre a relação com a política, se o brasileiro tinha interesse político ou não, se lembrava em quem votou na última eleição etc. E falava de conceitos, do papel dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, explicava esses temas.

A Eugênia me escolheu pela coisa do humor. Uma personagem engraçada vinha relacionando a política, os poderes, com o cotidiano dos brasileiros e brasileiras, das donas de casa. E aí eu na Central do Brasil, entrava nos trens, também entrava em ônibus e conversava com passageiros, era um pouco documental e eu falava com as pessoas sobre política - que você participa, que a sua relação na sua rua é política, que a relação dentro do seu ambiente de trabalho é política.

F5 News – Foi daí que surgiu a Dona Encrenca?  

MM – A partir dessa série eu já fui convidada, em 2007, para fazer a série do Inmetro. Na época, era um quadro do Fantástico que já existia, tinha matemática, cheio de números, de testes, de informações que não são tão palatáveis. Precisava de um alívio cômico e a Eugênia me colocou como Dona Encrenca, essa personagem popular que estava lidando no dia-a-dia com os produtos que estavam sendo analisados.

Essa ponte com humor trazia para o cotidiano o tema daquele produto. Era muito legal esse quadro do Inmetro e muito divertido de fazer. A gente tinha que criar o tema a partir do objeto analisado, criar um roteiro e, por dez anos, fui Dona Encrenca no Fantástico. Acabou só quando o quadro saiu do programa.  

F5 News - Como esse papel que te levou à fama nacionalmente impactou na sua vida e na sua carreira?

MM - Foi uma história maravilhosa, de grande aceitação. Mudou bastante o patamar da minha carreira porque eu virei uma pessoa de publicidade. Queriam fazer propaganda comigo do Rio Grande do Sul ao Amazonas, porque eu aparecia no Fantástico como um selo de qualidade praticamente. A Dona Encrenca referendava, ela dizia o que o Inmetro analisava, aprovava ou reprovava. Então, acabei sendo uma voz da qualidade. Fiz muita, muita publicidade, em vários segmentos, fiquei muito popular, foi excelente. Mas nunca parei de fazer teatro.

F5 News – Em sua carreira no cinema, o que mais te marcou?

MM - Fiz Central do Brasil, de Walter Salles; Cidade Baixa, de Sérgio Machado; Quincas Berro D´Água, também do Sérgio Machado; fiz O Céu de Suely, de Karim Aïnouz. São filmes que eu tenho orgulho de ter participado, bem interessantes, artísticos, com a linguagem bastante peculiar. Recentemente, eu fiz ainda uma série de Sérgio Machado, Irmãos Freitas, sobre a vida do boxeador Popó.

F5 News – Você continua na TV, não é?

MM – Eu fui mãe tarde, aos 47 anos, isso também está na minha peça. Depois que fui mãe, fiquei muito devotada a meu filho e parei um pouco o teatro. Mas eu participo de um programa – o Mosaico Baiano – há 16 anos em Salvador, na Rede Bahia. Esse programa me dá muita popularidade, sou muito, muito conhecida na Bahia, por isso fazer a turnê da peça pelas cidades do interior da Bahia.

O público da TV é muito fiel. "Minha mãe te adora" é o meu Instagram por ouvir as pessoas escreverem: “minha mãe não perde você”, “você é a alegria do sábado da minha mãe”, coisas assim.

F5 News – Como é sua peça agora em cartaz, “Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui)”?

MM – Eu completei 30 anos de carreira em 2020, mas, com a pandemia, só estreei a peça em 2023. Fui mãe tarde e voltei a fazer teatro recentemente com esse espetáculo, um monólogo. Tem sido um sucesso. Eu conto as minhas saídas de Aracaju, minha chegada em Salvador, vários aspectos da minha vida, abrindo para questões bastante relevantes dessa loucura que é a vida da mulher contemporânea. Enfim, as atribuições e ainda querer ser mãe.

Fiz inseminação e, nos meus tratamentos, via cenas que eu pensava numa peça e está tudo nela, associado a uma máquina de lavar roupa. Tem essa metáfora para falar da vida, associo as etapas da vida aos ciclos da máquina de lavar. É um espetáculo muito divertido, autobiográfico a princípio, mas que extrapola para as histórias das pessoas, da vida enfim. É divertido e também comovente. Agora eu estou fazendo turnê pelo interior da Bahia e doida para levar a peça para Aracaju.

F5 News - Como foi a experiência de protagonizar a campanha da Semana da Sergipanidade da Fecomércio, de certa forma voltando às suas raízes?

MM - Eu fiquei super feliz com esse convite de Fernando Carvalho [então presidente interino da Fecomércio Sergipe], porque, como participo do programa Mosaico Baiano, todos os sábados há 16 anos, eu sou muito conhecida no estado da Bahia, muito mesmo. Em Sergipe, fui mais conhecida quando estava fazendo a Dona Encrenca, porque passava no Fantástico.

Adorei a equipe, adorei o profissionalismo das pessoas, e teve esse caráter, sim, de um resgate da minha sergipanidade, do meu amor por Aracaju, por Sergipe, que é muito grande.

Aracaju é uma cidade que me impressiona muito a cada vez que eu retorno - a prosperidade, o crescimento, a modernização e, ao mesmo tempo, a qualidade de vida. Muitas pessoas de Salvador estão indo morar em Aracaju, envelhecer em Aracaju, pessoas de vários estados.

 

 

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