O clichê que eu quero ter | Amanda Neuman | F5 News - Sergipe Atualizado

O clichê que eu quero ter
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 03/04/2022 23h02 - Atualizado em 03/04/2022 23h12

Nos ensinam a buscar o extraordinário, o incomum, aquilo que só nós e mais ninguém teria, conquistaria ou viveria. Eu, porém, sempre quis o clichê.
Aos 11 anos eu decidi que, em um dia do futuro, queria casar, ser mãe, ter uma casa e uma família para ser minha. Passei a adolescência sonhando com um casamento bonito, de vestido branco, um marido amoroso, uma família feliz e uma vida comum. Ali eu não sabia o que era clichê ou extraordinário para os outros. Extraordinário para mim era ver todos os dias o meu pai levantar mais cedo que a minha mãe, preparar o café da manhã e, só então, acordá-la. Ele faz isso há mais de 30 anos e eu não canso de achar extraordinário.
O tempo passou e eu cheguei lá.
Mas eu não estou falando do “chegar lá” incomum que a minha geração tomou para si como meta de vida. Eu estou falando do meu “chegar lá”. Aos 22 anos comprei um apartamento. Aos 23 casei com um homem amoroso. Com quase 30 me tornei mãe de uma menina linda e esperta. E assim segui: buscando a felicidade clichê, dos comerciais de margarina e livros de romance que, quer você ache empolgante ou não, é a minha felicidade.
Dias atrás percebi como ter uma vida comum (e feliz) parecia não ser tão extraordinário assim. Pensei por um instante o que de mais incrível eu poderia ter feito para ir além, para ir em busca do que todo mundo me dizia ser magnífico.
Eu não estabeleci metas grandiosas para a minha vida. Eu não sonho em viajar o mundo inteiro com uma mochila nas costas nem desejo passar um ano sabático vivendo experiências fantásticas em algum lugar remoto. Eu nunca quis isso, eu sempre quis o comum.
Embora o clichê entedie alguns e passe longe do que muitos desejam para si, encontrei no clichê o que me faz feliz: uma família unida, bons e leais amigos, férias na praia e planos a médio prazo porque os de longo prazo parecem estar no futuro demais. O clichê que eu sempre quis é o clichê que hoje tenho e, além disso, é o clichê que busco conservar todos os dias. Porque, acredite em mim, embora comum, ser clichê não é tão fácil quanto pode parecer. Em dias de pressa e agonia, de amizades que repentinamente vêm e vão, de gente que carrega o mesmo sangue e nenhum afeto, ser clichê às vezes toma o lugar do extraordinário. Bem sei que eu poderia querer coisas diferentes, mas eu não quero. O meu clichê é suficientemente extraordinário para mim.

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Amanda Neuman

Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.

E-mail: amandaneuman.an@gmail.com

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